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12.9.09

Igual.

Rapper Pirata

São Paulo, 12 de setembro.

Olho a imagem refletida na parede. Fico analisando-a e reparo sua semelhança com outras imagens que pertubam a minha mente. Ela é tão idêntica a dos moradores que chamei de vândalos na noite passada; Eles estavam lá sendo mostrados em meu televisor, que mostrava sua baderna, somente porque alguém morreu. O engraçado, que eles são vizinhos da minha rua localizada em um bairro distante da região central da cidade.
Meu! Porque certas pessoas resolvem revindicar direitos humanos? Elas tornam-se perigosas para a minha paz e para a ordem do estado. Bando de arruaceiros que somente atrapalharam minha vida. Provocam uma pertubação civil no transito, a atitude rude delas me faz chegar atrasado no meu emprego. Cara como pode!
Eu sou perfeito! Todos os dias chego uma horas antes e saio três horas depois do trampo, para meus patrões darem-me a oportunidade de um cargo melhor. Não nasci para ficar para trabalhando em chão de fábrica. Dou razão para o meu chefe que falou bastante, somente porque cheguei três minutos atrasados. Poxa! Assim atrapalho o lucro da empresa.
No meu serviço tem dessa gente que fica agitando as outras no intuito de fazerem greve para melhorar nosso salário. Ainda bem que eu tomo distância desses críticos petistas e socialistas.
Nossa! Como essa imagem é igual a dos moleques do farol, os que estudam em escolas públicas de manhã. A tarde ficam até umas nove da noite pedindo para me roubar... a caridade de dar-lhes uma moeda qualquer.
Eles vendem balas juntos com uns adultos. Acho que está na hora deles conseguirem um trabalho de verdade?
Não entendendo o porque precisam de cotas para estudarem em universidade pública, só porque não aprenderam o básico para passar no vestibular. Que para mim é justo, se eu não estou em universidade pública é porque sou incompetente.
Cara! O meu nariz, cor da pele, cabelo, gestos, forma de falar são todos iguais a essa imagem que vejo no espelho...
Ela sou eu, o que finge não ser igual a ela.
Meu! Se eu quiser vencer terei que continuar me escondendo atrás dos escudos dos preconceitos da sociedade brasileira. Necessito muito da televisão para alienar-me e manter a idéia da realidade fictícia da novela das oito horas...