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21.5.08

O ESTADO DE SÃO PAULO VAI PREMIAR OS MELHORES ABUSOS RACIAIS.

O ESTADO DE SÃO PAULO VAI PREMIAR OS MELHORES ABUSOS RACIAIS.

RAPPER PIRATA

São Paulo 20/05/2008 – Se você foi vítima de um crime racial, saiba que a Secretaria de Cultura do Estado está te convidando para contar o fato em um concurso, onde se tem como prêmio à publicação dos teus transtornos, numa coletânea com mais cento e dezenove textos. Somente isso, parece ser à solução encontrada do governo de São Paulo, em 2008, na luta histórica contra o câncer social brasileiro chamado racismo.
A campanha tem o slogan “Racismo: se você não fala, quem vai falar?”, ela foi pensada por alguma equipe técnica competente, num instante de brilhantismo para comemorar (não sei o que?) cento e vinte anos de abolição. Mas me fica a pergunta: Já não se conta essas histórias a mais de quinhentos anos? Será que o celular está diminuindo a audição da administração pública, ela não consegue ouvir a voz do movimento hip hop, da periferia e seus atores políticos e comunitários, dos movimentos sociais e principalmente do Movimento Negro? Esses não estão falando, o melhor berrando, mas ninguém os ouvem? Ignorar e criminalizar os conflitos de interesses, torna essa administração forte.
Os erros desse tipo de ação como política são diversos. Lógico, se a intenção for combater a praga do racismo. Acredito que seja um saber dos elaboradores dessa estratégia promo-cultural, que o racismo é uma ideologia impregnada em nosso subconsciente, ela se mascara de forma abstrata; E somente com o passar dos anos de nossas vidas podemos combate-la em suas manifestações concretas, assim vamos eliminando-a da cultura brasileira, ou melhor, da sociedade. Não é assim que está escrito nos registros históricos dos livros escondidos da maioria?
Tendo essa idéia racional, então, qualquer história simples de quem foi vítima de um crime racial ou sofreu algum tipo de discriminação, já tem seu valor histórico. Ainda mais que, algumas pessoas muitas vezes não percebem o crime, ou ignoram como fosse uma proteção, as reações provocadas nelas por causa do preconceito racial e seus abusos. Chegam acreditar que a violência de todos os tipos, a miséria da pobreza, a piada pejorativa, a estética do feio, a moradia precária, o estudo sem qualidade, a força de trabalho mal pago, a drogatização, o genocídio populacional entre tantas formas abstratas dessa ideologia; Seja assim mesmo! Coisas da vida sofrida e não tem como acabar com ela.
Agora o estranho é a escolha do conto da barbárie perfeita, desses tempos de passados atuais do sofrimento do ser humano? Isso até parece tese de doutorado de alguém! Aquelas pesquisas de cientista devorador de miséria! Na nossa prosa popular da realidade, sempre o estado é o grande mal feitor. Ele geralmente aparece de farda, arma, escudo e cassete. Será que ele quer saber qual a melhor forma que torturou ou matou em matagais; pessoas que não tiveram nem chance de se defender num tribunal. E seus gritos de inocência foram sufocados, por causa de sua surdez intencional? Os representantes do poder público fantasiam seus inimigos estereotipados: Jovem, Preto, Pobre, Nordestino, Sobrevivente da favela. Mandam todos os dias centenas de jovens para seus porões de humanos. Eles sempre serão a justificativa da transferência do dinheiro público a um empresário de suas famílias. Esse tem negócios no ramo presidiário.
Talvez dessa campanha, houvesse um trabalho de conscientização sério referente às causas, efeitos e soluções para eliminar o racismo no Brasil. As informações sendo divulgadas maciçamente nas escolas, universidades, empresas, meios de comunicação, praças, teatros, hospitais, cinemas, danceterias e por ai vai. Até poderemos viver algo que é um sonho: Nós escrevermos um livro com o título: “O Estado de São Paulo deixou de ser racista e tornou-se protetor dos direitos de seus cidadãos: Pretos, Asiáticos, Nativos (índios), Brancos, Portador de Deficiência, Homossexuais, Mulheres, Idosos, Imigrantes, Emigrantes, Mães solteiras, Desempregados, Dependentes químicos e de álcool, Enfermos, Presidiários, Sem teto, Sem terra, Crianças, Idosos, Adolescentes, Homens, Morador de rua”.
E ainda questionaremos se devemos ou não comemorar essa tal dita abolição.
Hoje um ato importante para o governo do estado demonstrar seriedade, nesse enfrentamento contra o racismo, é decretar o dia 20 de Novembro como feriado estadual.

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